Há mais ou menos 2 semanas um passarinho vem me visitar à noite. De verdade. Entra sempre pela janela da sala e vai voando até o meu quarto e volta. Eu até hoje não sei se é beija-flor, rolinha, pardal, não sei... Mas ele me causa um susto interessante. Talvez tenha feito um ninho em algum lugar na varanda, perto da cozinha, na árvore.
Acho bonito, belo e delicado a forma como ele estabeleceu uma fidelidade em relação à casa. Tem várias casas aqui para ele ir, mas vem aqui, na minha casa... E fico a pensar que isso é um convite à minha mente atualmente poeticamente vazia. Minha meta de escrever um poema por dia está furada há muito tempo. Ninguém tirou minha inspiração mas, confesso: as tantas poesias que eu escrevia me tiravam – às vezes – os pés do chão. Eu vivia mesmo nomundodalua.
Quando entrei na faculdade, a ciência social me convidou a estar um pouco mais longe da poesia e me aproximar da teoria. Foi o que fiz, substancialmente. Mas nada disso, no entanto, tirou-me o romantismo, os sonhos, a delicadeza e a leveza de ser poesia viva, em minha vida e na vida dos outros.
A poesia é o convite diário para escrever a beleza de cada vida, de cada ser, de cada novo. Poesia é “nascer para a eterna novidade do mundo” (Pessoa, F.), e eu quero nascer a cada dia, na poesia.
Nascer...
No gesto das mãos de acolhida
No olhar que dirijo ao horizonte, ao Belo Horizonte e aos belos horizontes
Nas gotas em flor.
Nascer...
Em cada esquina em que mora um sonho
No vento que carrega os cabelos
No abraço amigo.
Nascer...
Para a eterna novidade,
Até que tudo seja não morte
Mas, de novo, nascimento.