terça-feira, 6 de abril de 2010

A MÚSICA - Um sentimento de mundo




(Eu quero falar de um jeito simples hoje. Não quero a palavra certa, mas aquela que apenas dê conta de retratar meus suspiros.)

São 00:22 e devo confessar que não sou capaz – pelo sono de agora – de escrever algo coerente. Mas quem se importa? Coerência é ponto de vista – às vezes.

Vou incensando meu quarto enquanto olho livros que deixei na prateleira: alguns eu nem sei para quê comprei, não os li nem tenho vontade de ler. Olho para meu violão esquecido no canto da parede, dentro da capa. Lembro de tudo o que vivi desde que a música entrou em minha vida: gente que conheci, músicas que cantei, pessoas que emocionei. E ultimamente a minha vida anda tão sem música... Eu não toco tanto mais. Fico semanas sem um acorde. Canto quase todos os dias, mesmo que seja só um refrão. E todos os dias sonho em cantar mais, penso que deveria escrever um projeto, dar um voto de confiança e dar o meu trabalho pelo meu talento. A voz mediana da cantora de samba se parece com a minha, a tonalidade me faz sentir confortável, sentir cada nota passando pelas cordas vocais com inenarrável naturalidade. Tudo o que é emoção se mistura, quero chorar, quero rir, quero perder a noção do tempo, do espaço. Parece que preciso entregar o corpo à música. A sensação não é muito passível de descrições; é difícil dizer. (Clichê, mas é verdade.)

Preciso cantar porque é assim que consigo levar a vida...

Preciso cantar porque – como dizia o querido Nietzsche – “Sem música, a vida seria um erro”.

Preciso cantar porque o Criador também canta em minha voz...

Preciso cantar porque cantar é minha única forma de rezar. A mais eficaz! E é por isso que não posso deixar de cantar.

E a minha vida sem cantar é uma “vidinha mais ou menos”.

Quando passo tempo demais sem tocar meu violão as primeiras notas são sofridas, parece que estou pegando, pela primeira vez na vida, um violão. Parece que descobri aquele mundo de novo, um mundo todo novo. Arrepio-me novamente, como se, pela primeira vez, tivesse conseguido fazer um acorde novo, ou simplesmente o primeiro acorde de minha vida, no violão Di Giorgio da minha mãe, violão que “ensinou” a várias pessoas quão sublime é a música...

Decido para sempre que nasci para a música. Não sei muito bem – ainda – de que forma devo me entregar mais a ela – que não é uma pessoa, não é uma coisa, não é uma disciplina: A MÚSICA É UM SENTIMENTO DE MUNDO, DE UNICIDADE, MAS AO MESMO TEMPO DE ESPARRAMAÇÃO: É O SENTIMENTO DO MUNDO EM MIM.

Entrego-me à música... Para sempre a ela me entrego. Entrego-me às sensações de cada nota, de cada música que canto sozinha na sala de piso de madeira aqui em casa - que por sinal tem uma acústica per-fei-ta, à música que canto onde quer que eu esteja, que rezo, que falo, que vivo.

Entrego-me.

E tenho sono agora... Preciso descansar. Preciso continuar sentindo – A MÚSICA que, para mim, nada mais é do que A VIDA SE EXPRESSANDO.