segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Rituais de Passagem Parte I - "todo lugar que a gente pisar vai se tornar um pouco Esquina, um pouco Godofredo, um pouco Minas."



Então... Dessa vez, tenho que usar o verbo no gerúndio, sabe por quê? O momento é processual; começou no fim de outubro, e não sei onde e nem quando vai terminar. Aliás, também não sei como. Sei que eu mesma sou esse processo, aquilo que nós antropólogos gostamos tanto de estudar: o ritual de passagem; passagem pra um novo tempo, novo momento, novo lugar, nova vida, nova etapa e, quem sabe, uma nova Melissa, que trabalha/trabalhará para recolher aqueles sonhos esquecidos “sobre a mesa, como uma pêra se esquece dormindo numa fruteira, como adormece um rio, o sol na sombra se esquece, dormindo numa cadeira...”
O processo, como um todo, pede muitas renúncias. Renúncias as quais eu estava disposta a fazer, já há algum tempo. Renunciar a grandeza da capital, o consumo, o excesso de liberdade - é o que você tem quando não mora com sua família, as oportunidades de ir a tantos shows e eventos. Infelizmente, isso não é o suficiente pra alimentar a nossa alma que, às vezes, precisa da paz e das confusões de nosso lar, de nossa família, do nosso lugar de origem e, no meu caso, o lugar com o qual - segundo alguém me disse há algum tempo - tenho ligações, até hoje, umbilicais.

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Em se tratando de outros poréns, eu, hoje, afetivamente, não sou mais a mesma. Muitas coisas mudaram de rumo em meu coração depois que, no meio deste ano, um sentimento perpassou-me a alma, instalou-se em mim (até hoje eu não sei se isso foi/é bom ou rim), mas eu digo mais uma vez: depois disso, eu jamais serei a mesma, e isso não vai mudar. Depois disso, nunca mais cantarei as músicas do Clube da Esquina sem que meu coração/alma viaje para defronte ao Edifício Levy mesmo não estando lá, ao Godofredo, à Esquina da Rua Divinópolis com Paraisópolis, ao Parque Municipal, à Av. Afonso Pena em dia de Feira Hippie: é mais do que o Clube da Esquina e as atrações belo horizontinas, é o que tudo isso carrega dentro de si desde então. Meu coração não é mais o mesmo de antes. O Clube da Esquina. Tudo passa a fazer um sentido meio sem nexo (fazer sentido sem nexo é possível?), mas ao mesmo tempo cheio de razões, razões essas que, como diz o Beto, “não precisam de razão”. E enfim...

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Eu reinvento o Cais, lanço-me.

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Vivo agora as despedidas de Belo Horizonte. Vivo a primeira parte da partida, a despedida dos lugares porque passei, as memórias que são mais do que lembranças, são vida em mim. E essa, descrita no rumo de Santa Tereza, em BH é, senão, uma das mais vivas, mais fortes, mais... Não sei a descrição exata.

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"Eu quero mais, tenho o caminho do que sempre quis." (Milton, Bituca, pai, ídolo, sei lá, eu amo esse homem.)

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Estou me despedindo (gerúndio) de Belo Horizonte não sem lágrimas, não sem dor, não sem sentir que perdi algo. Mas preciso... Preciso de mais tranquilidade, trabalhar no que quero, viver um pouco mais. Preciso de sossego, de família, preciso das minhas “Pequenas Minas, Geraes do meu coração”, ou seja, as pequenas Minas de que falei no post De repente todos os lugares podem ser Minas Gerais.