quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Rituais de Passagem Parte II – Da água que correu. Histórias assim não começam nem tem fim, elas existem.

Agora vamos deixar o meu amado Clube da Esquina de lado, porque eu não estou num momento Clube. Quero dizer, estou. Mas não estou num momento Clube bom. Então é melhor desviar.

Eu estou tentando escrever esse texto há dias. Há semanas... Mas não me sinto suficientemente inspirada. Acho que é porque, na verdade, muito tenho a dizer. Em vez de eu cantar, como o Milton canta em Travessia, “muito tenho pra falar”, eu me calarei. Porque no silêncio rezo a Deus por meus projetos de vida, por minhas esperanças.
Este fim de ano, para mim, não é um lamento. Mas é uma oração que contém uma gota de lamento pelas rupturas que tenho vivido.

Eu queria, agora, estar numa praia, vendo a linha do horizonte, e ver o vento levar esse sentimento “esquisito” embora...

Existe um incômodo, mas, numa proporção aumentada, muito mais significativa, a vontade, o desejo e a esperança de que tudo, TUDO DÊ CERTO!

Eu preparo meu terreno – meu coração, solo sagrado – para a chuva que Deus enviará quando achar que estou pronta. Não quero agir como o fazendeiro que só ara a terra e prepara as sementes quando vê que a chuva está prestes a cair. Quero estar preparada.

Então, que 2011 seja doce!

Eu quero mais.
Mais paz.
Mais saúde.
Mais poesia.
Mais verdade.
Mais noites bem dormidas.
Mais noites em claro.
Mais sorrisos, beijos
e aquela rima grudada na boca.

(Fernanda Mello)

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Rituais de Passagem Parte I - "todo lugar que a gente pisar vai se tornar um pouco Esquina, um pouco Godofredo, um pouco Minas."



Então... Dessa vez, tenho que usar o verbo no gerúndio, sabe por quê? O momento é processual; começou no fim de outubro, e não sei onde e nem quando vai terminar. Aliás, também não sei como. Sei que eu mesma sou esse processo, aquilo que nós antropólogos gostamos tanto de estudar: o ritual de passagem; passagem pra um novo tempo, novo momento, novo lugar, nova vida, nova etapa e, quem sabe, uma nova Melissa, que trabalha/trabalhará para recolher aqueles sonhos esquecidos “sobre a mesa, como uma pêra se esquece dormindo numa fruteira, como adormece um rio, o sol na sombra se esquece, dormindo numa cadeira...”
O processo, como um todo, pede muitas renúncias. Renúncias as quais eu estava disposta a fazer, já há algum tempo. Renunciar a grandeza da capital, o consumo, o excesso de liberdade - é o que você tem quando não mora com sua família, as oportunidades de ir a tantos shows e eventos. Infelizmente, isso não é o suficiente pra alimentar a nossa alma que, às vezes, precisa da paz e das confusões de nosso lar, de nossa família, do nosso lugar de origem e, no meu caso, o lugar com o qual - segundo alguém me disse há algum tempo - tenho ligações, até hoje, umbilicais.

* * *

Em se tratando de outros poréns, eu, hoje, afetivamente, não sou mais a mesma. Muitas coisas mudaram de rumo em meu coração depois que, no meio deste ano, um sentimento perpassou-me a alma, instalou-se em mim (até hoje eu não sei se isso foi/é bom ou rim), mas eu digo mais uma vez: depois disso, eu jamais serei a mesma, e isso não vai mudar. Depois disso, nunca mais cantarei as músicas do Clube da Esquina sem que meu coração/alma viaje para defronte ao Edifício Levy mesmo não estando lá, ao Godofredo, à Esquina da Rua Divinópolis com Paraisópolis, ao Parque Municipal, à Av. Afonso Pena em dia de Feira Hippie: é mais do que o Clube da Esquina e as atrações belo horizontinas, é o que tudo isso carrega dentro de si desde então. Meu coração não é mais o mesmo de antes. O Clube da Esquina. Tudo passa a fazer um sentido meio sem nexo (fazer sentido sem nexo é possível?), mas ao mesmo tempo cheio de razões, razões essas que, como diz o Beto, “não precisam de razão”. E enfim...

* * *

Eu reinvento o Cais, lanço-me.

* * *

Vivo agora as despedidas de Belo Horizonte. Vivo a primeira parte da partida, a despedida dos lugares porque passei, as memórias que são mais do que lembranças, são vida em mim. E essa, descrita no rumo de Santa Tereza, em BH é, senão, uma das mais vivas, mais fortes, mais... Não sei a descrição exata.

* * *

"Eu quero mais, tenho o caminho do que sempre quis." (Milton, Bituca, pai, ídolo, sei lá, eu amo esse homem.)

* * *

Estou me despedindo (gerúndio) de Belo Horizonte não sem lágrimas, não sem dor, não sem sentir que perdi algo. Mas preciso... Preciso de mais tranquilidade, trabalhar no que quero, viver um pouco mais. Preciso de sossego, de família, preciso das minhas “Pequenas Minas, Geraes do meu coração”, ou seja, as pequenas Minas de que falei no post De repente todos os lugares podem ser Minas Gerais.


segunda-feira, 20 de setembro de 2010

A falta que Deus me faz.



  
O único jeito de rezar é cantar. E a única coisa que me eleva a Deus é a arte. Então, eu ando, por esses dias, meio atéia.


(Eu)


Sem mais palavras.
Preciso de traços.
De melodias.
De cordas novas pro meu violão.
De lágrimas de onde jorrem canções.


Preciso rezar.

domingo, 5 de setembro de 2010

Das reticências necessárias.

Aham, é muito bom ver que os blogs estão novamente (quase) em alta. Porque eu descobri esse mundo cyber blogando. E porque fiz amigos de quem eu nunca mais desgrudo blogando.
Eu nem sou pesquisadora do cyberespaço, principalmente porque vivo muito nele ou, melhor: eu protagonizo minha história também nele. Pra pesquisá-lo eu teria que – de forma antropologicamente necessária, aquele esforço do etnógrafo – afastar-me. Por não me sentir disposta (risos), eu faço observações e generalizações, induções e deduções sem me preocupar muito se isso é estatisticamente provável.
No início dessa história cyber, éramos os blogs. Semanalmente, religiosamente – quase, postávamos nossas lágrimas ou risos, histórias, contos, poemas... E a gente se entendia por essa linguagem. Começamos a nos comunicar pelo IRC. Quem lembra? Conversas coletivas nos #canais e “segredinhos” no PVT. O MSN começou a ganhar espaço e a individualizar, cada vez mais, as nossas conversas. O Orkut, concomitantemente ao MSN, passou a tornar os pequenos parágrafos as formas mais “próximas” de comunicação. Vez ou outra, surgia um depoimento, um texto maior. Mas os scrapbooks sintetizavam as tentativas de estabelecer um diálogo mais duradouro. Resolver problemas relacionais? Aí sim, novamente, o MSN. Veio o Twitter – o que para mim é uma rede fantástica, escalafobética, mas cheia de defeitos – e aí você segue pessoas desconhecidas ou nacional/mundialmente conhecidas, “retwitta”, responde, ainda de forma mais sintética. Temos que abreviar boa parte das palavras se quisermos dizer algo de forma mais “profunda”, porque nem sempre o sintético é eficaz, ele é apenas eficiente.
Sinceramente, eu me “desesperei” quando pensei na possibilidade de não mais escrever textos mais longos com meus amigos... (Ai, to me sentindo ridícula falando isso! Mas é o que eu percebo. Então que se lasque se está ridículo.) Mas... Hoje há um retorno da necessidade de falar mais, escrever mais, talvez pensar mais, porque somos seres redundantes e precisamos das reticências que não cabem em nossas apnéias e que não cabem em 120 caracteres.
Não abreviar as palavras é, quem sabe, estender as relações. Ou simplesmente pensar mais no que falar, e ter a possibilidade de falar mais sobre o que pensamos. É como a diferença entre um aperto de mão e um abraço.
Dos meus amigos eu espero o abraço. Espero a oportunidade e possibilidade de vê-los falar mais, e assim estender as relações, as reticências, as redundâncias, o “exagero”, as exceções e tudo o mais.
Agora vou tomar um remedinho, porque a enxaqueca não me deixa.

domingo, 29 de agosto de 2010

Vendaval, Carrossel, Segue a vida a rolar...

Olá, pessoas...
Pois então. Ando correndo muito! (redundante, né?)
Mas tenho muita coisa pra dizer, falar, escrever e refletir...
Então, assim que eu conseguir, eu volto!


Obrigada a quem lê!

"Vendaval, carrossel 
Segue a vida a rolar 
Pé na estrada, pó de estrelas 
Coração vulgar 
Que navega no céu 
E navega no ar 
Grão de areia vagar"


(A Via Láctea - Lô Borges e Ronaldo Bastos)







domingo, 18 de julho de 2010

Acordei de um sonho estranho...

Tocando “Pátria Minas” aqui na TV... Comento? Não, né... Reticências costumam dar a ideia de que não se quer falar, mas as minhas falam muito. E por isso eu tenho um ar de “cheia de mistérios...”

É estranho que se diga “eu estou com preguiça de escrever”. Eu às vezes digo; é o caso de hoje. Eu não sei por que, exatamente, se diz isso. Mas fico a imaginar. Talvez seja porque, na grande maioria das horas, esperamos escrever coisas bonitas, cheias de vida, amores, canções bonitas, e quando não estamos pra “bonitezas”, pensamos que não existe poesia. Mas a nós cabe lembrar que a poesia é de vida e é de morte. É como a morte que percorre o corpo e o espírito quando canto... E quando eu canto eu morro e ressuscito. Eu não consigo viver sem poesia, não consigo viver sem destrinchar versos, rasgando a pele, rasgando a voz.

Existem épocas em que nos esgotamos emocionalmente. É preciso tirar forças e energia do corpo todo para ficarmos em pé (no sentido mais amplo)... É a estranha sensação de cansaço físico, mental, emocional e, no meu caso, afetivo.

Histórias ocultas, sem ofensores nem ofendidos, são sempre elas. Tudo o que é oculto tem um tom de obscuridade. Uma coisa boa pode estar oculta, mas até que ela se revele, e não seja mais oculta, ela é obscura. Só que existem coisas que permanecem no lado obscuro. Ou coisas que se revelaram iluminadas e nós as abafamos numa caixa escura, no medo de arriscar. E daí surgem as indigestões. O que se passa aqui comigo é uma indigestão aguda. Logo, eu espero ou digerir ou – com o perdão da palavra – vomitar tudo isso, todo esse incômodo, essa vontade de sumir e dar sumiço em algumas coisas.

Há pétalas da roseira que eu sou por toda a parte... Deu um vento na roseira. E eu vou, devagar, sigo com o sol, vou catando pétalas por aí... E em algum lugar, eu juntarei esse todo espalhado e farei o mosaico-pintura mais bonito, merecedor de um sorriso tranquilo, sereno, feliz. E só então hei de reconhecer e me deixar ser conhecida por alguém que tenha nas mãos o sol da manhã.

Por fim, a poesia me falta, mas é comigo. E sou eu.
A poesia é uma forma de viver, é um viver-vivendo, um devir, um sempre vir-a-ser, por isso as poesias nunca estão prontas, e quem se faz poesia nunca é um todo elaborado e coerente, que é o que eu não quero ser nem vou conseguir, se escolhesse ser...

Sou Poesia.


Tudo há.


Eu decidi subeverter
Transformar todo ponto em discrepância
Todo verbo em vida
Todo incenso em flor.
Todo octógono agora é círculo
E todo cubo é bola
Giram e rodam os sentidos das linhas retas.
Fiz do fogo o descanso
Da tensão... fiz cansaço!
Que a água arde e queima
E transforma na voz o estilhaço.
Do sorriso faço brisa
Do carinho das mãos faço des... alento!
Do pó à massa, passo e junto 
Cada tudo de mim
Espalhado por aí.
Feio me soa belo
E até onde alcançam os sentidos de outrem
Encho todos os cantos
Do vigor da poesia que consome e faz viver.
Afinal,
Quanto de mim há em tudo?
E quanto de tudo há em mim?

Poesia escrita por mim em 08/08/08

domingo, 4 de julho de 2010

Porque sou poeta...

Sim, mais um completar de anos. E não importa quantos são. Estão completos e se completando infinitamente... E ao mesmo tempo, é tanta coisa que se sente, é sentimento junto, que se mistura no cosmos (ou no caos), um não-existir, um incômodo, uma alegria... Porque a morte nos perpassa ao nascer, a cada nascimento diário, e principalmente no aniversariar. Uma alegria mista, um sentimento de não-existir e, ao mesmo tempo, de novamente ser vida. E eu me lembro que sou uma música... Eu me lembro que eu sinto assim porque tenho uma (ou mais peles) a menos. Então eu sou poeta e sinto tudo muito e muito tudo...
É tudo... Porque sou poeta!




Porque sou poeta
(poema escrito por mim, sabe Deus quando, em meados de 2008)
Eu não sei de onde vêm os sonhos
Não entendo muito sobre mistérios
Sei apenas sentí-los:
Doce essência
Que só conheço por viver.
Presença afável de Deus
Que se revela em cada linha
Que desenho, percorro, movo, páro, desejo.
Caminhos...
Porque sou poeta, canto
Porque sou poeta, a cada minuto
Desejo, sincero,
Tocar a beleza das coisas...
Porque sou poeta, sou prece
Que a prece realize dentro de mim
E no mundo toda mudança necessária.
Porque sou poeta, amo:
Tudo aquilo que, de dentro de mim,
Exala ternura que vai ao outro
E volta para mim...
Só sonho porque assim sou
Porque a verdade
É capaz de me libertar
Porque a razão
É capaz de clarear
Porque a vida
Me faz viver.
Amo em tudo quanto faço,
sofro,
luto,
vibro,
celebro.
VIVO!


No dia de meu aniversário, sentada perto do meio fio em Santa Tereza - BH...
"Um rio de asfalto e gente entorna pelas ladeiras, entope o meio fio..." (Clube da Esquina II)
Simbolismos, eu amo.

sábado, 26 de junho de 2010

De repente todos os lugares podem ser Minas Gerais

Noite de sábado, fim de uma semana que ainda não terminou. Por quê? Trabalhei hoje, trabalharei amanhã. Então a semana não tem fim. E a outra não vai ter começo. Pauso apenas para tomar um chocolate-quente, feito com pedaços de chocolate meio amargo (adoro); é uma das partes boas do inverno.

Sempre ando muito de carro por esta cidade – Belo Horizonte. E eu sempre viajo; não só no sentido de locomover-me dentro de um automóvel mas, mentalmente. Isso, de forma que consigo quase fisicamente embarcar em minhas sensações de exterioridade em relação ao lugar em que estou; no caso, o carro, o ônibus, ou quando estou a pé. Se eu estiver ouvindo música, a sensação é próxima a uma sinestesia[1].

Como eu nasci no estado do Rio de Janeiro, na pacata cidade de Resende e num inverno como este, eu tenho a oportunidade e a possibilidade (ou quem sabe até a necessidade) de um sentir múltiplo. Como assim? Boa pergunta, eu não sei responder com exatidão. Mas algumas pessoas sabem, porque tem um feeling parecido. E me entendem per-fei-ta-men-te.

Eu estou em Minas. Mas há lugares de Minas que não são Minas. E há lugares fora de Minas que são tão mais Minas... Ai!... E talvez seja por isso que eu vim, carregada pelo vento, vestir-me desse ser-Minas-Gerais, pra confirmar essa mineiridade. Antes de conhecer Minas eu já era mineira; eu já era barroca, eu já gostava de café quentinho, pão de queijo e manhãs frias numa cidade-do-interior-de-qualquer-lugar, já gostava de ver a neblina pela manhã, de viajar cedinho conversando com os meus, de chegar cedo na casa de meus avós (principalmente os maternos, que estão ainda vivos e moram em Fumaça, zona rural de Resende), tomar leite gorduroso retirado da vaca no último instante, comer aquela broa que a vó fazia/faz cedinho, e depois sentar-me, com meus primos e tios, na praça; sempre na presença de um violão (mesmo que – às vezes – com 5 cordas e um pouco desafinado – risos). Isso tudo é Minas. E eu descobri cantos de Minas no Rio. Descobri pessoas no Rio que são Minas mais Geraes do que tantos mineiros que conheço aqui, em Belzonte. E descobri mais: que estar em Minas não é, necessariamente, ser Minas tão Gerais (parafraseando meu “pai-musical”, Milton Nascimento – amo)...

A capital, essa metrópole, contemporânea demais, abafa, sufoca esse ser mineiro. Há aqueles que conseguem conservar sua mineirice (mesmo não sendo nascidos aqui) e há aqueles que adaptam suas mentes à metrópole, reproduzindo o tipo de atitude que o sociólogo Georg Simmel chamou de atitude blasé: são recebidos tantos estímulos que o indivíduo, para manter-se estável psiquicamente, adota uma série de contatos e comportamentos superficiais, evitando o excesso de estímulos nervosos. De forma mais simples: as pessoas vão-se tornando impessoais.

Eu, ao contrário, sou receptiva a todos os estímulos, e por isso eu tenho o que chamo jocosamente de “surto”. Vejo-me engolida brutalmente pela cidade a ponto de ter que me tornar uma cidadela, um “interior-de-Minas”, porque preciso me referenciar em algo pequeno para que eu mesma caiba dentro de mim e consiga abarcar-me a mim mesma. (Difícil isso? Pra mim também é... Risos.) No fundo, eu ainda estou plantada na pequena Resende e nos cantos por ali, naquele Vale do Paraíba. Estou plantada naquela região ali, onde estabeleci ligações umbilicais com tantas coisas. E talvez por isso eu não tenha penetrado (isso mesmo, adoro usar essa palavra nas horas impróprias) em atividades aqui nesta cidade (BH) que demandassem mais de mim do que eu ainda dou, dei e quero dar às pequenas Minas de onde eu vim, onde eu nasci e onde eu estou “amarrada” umbilicalmente.

Talvez só agora eu tenha entendido plenamente o que é ser do mundo, ser Minas Gerais. Antes, eu entendia num sentido mais geral e amplo, agora eu entendo com o coração e com a minha própria experiência de sentir onde existe e onde não existe Minas... Tenho saudade de Minas... Saudades dessas que chamei carinhosamente de pequenas Minas. Porque às vezes estar fisicamente em Minas não é tão significativo, e eu sinto isso constantemente.

E de repente todos os lugares podem ser Minas Gerais: dentro de um livro, de um sentimento de bucolismo (compartilhado ou não, risos), de acordes de um violão, num jeito de falar, de olhar, de acolher, de receber... Minas é cada canto do meu coração-barroco. Minas é dentro da gente, assim como o sertão (Guimarães Rosa...).

Nesta reflexão, (isso ta mais pra surto do que pra reflexão, mas tudo bem), inspirou-me a música “Saudade de Minas”, que conheci há algumas semanas, mas que me falou tanto ao coração, por mil motivos e acontecências (...). Não vale ler o post sem ouvir a música, ok? (Risos.)

Continua o cheiro do chocolate-quente, restante no fundo da xícara. Faz frio. Eu já tenho sono e, mais uma vez, transportei minha alma para outro lugar.


Saudade De Minas



Sabe aqueles dias que você acorda
E um baixo astral invade a sua porta
Todas as janelas sangraram
Todas as pessoas sumiram
Não existe Minas mais por aqui

Você se transforma corre e vai pra rua
Quer ver as pessoas com cara de sol
Mas sobraram restos de lua
Causando um eclipse na esquina
Não existe Minas mais por aqui

Só então você vai entender
Que em toda cidade é assim
Pessoas estão a querer a felicidade
Carros e buzinas vêm dizer
Que o meu coração se enganou
O mal que ele tinha
Era saudade de Minas...





[1] Sinestesia (do grego συναισθησία, συν- (syn-) "união" ou "junção" e -αισθησία (-esthesia) "sensação") é a relação de planos sensoriaisdiferentes: Por exemplo, o gosto com o cheiro, ou a visão com o olfato. O termo é usado para descrever uma figura de linguagem e uma série de fenômenos provocados por uma condição neurológica.

domingo, 30 de maio de 2010

DAS ACONTECÊNCIAS

AS INDAGAÇÕES:


“A resposta certa, não importa nada: o essencial é que as perguntas estejam certas.” (Mário Quintana)

É engraçado como algumas frases parecem ser um texto inteiro, muito maior do que elas próprias. E acontece isso pelo teor dessas palavras que, juntas, podem dar sentido a toda uma existência. Mesmo que essa existência seja recente em nossas vidas, fruto de uma acontecência cujo motivo ainda não entendemos plenamente. É que o acaso – eu não sei – não deve existir; ele promove encontros, despedidas, reuniões e surpresas, mas ele, em si, e por si, não é um acontecimento. É esse acaso que nos faz as melhores perguntas, essas perguntas certas, e deixa em nós sabores, cheiros, sensações, vontades. E eu? Eu sigo perguntando... Conhecendo, sendo conhecida. Descobrindo um outro mundinho.

E eu continuo, também, “roubando” frases de poetas descaradamente... Mas sabe o que é? Eu me sinto co-autora, porque eu vivo. E a poesia passa não somente a existir/ser em mim, mas passa a ser, também, minha; assim como as canções em que divido a voz com alguém. E assim, também, como as canções de tantos poetas e cantores, cantadores.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Reticências e Pontos.

Eu ando tão reticente, tão redundante... Mas parece que minha poesia é inversamente proporcional, sintética, reduzida, pontuada. E por isso vou postar algo não tão novo, mas inédito por aqui:


Boas Vindas

Achega-se, entra.

Traga brisa ou vento, boas vindas!

Deixa aqui lágrima, riso ou alegria

Mas não te esqueças de deixar de si e levar de nós

A fúria e a ternura da poesia!

terça-feira, 6 de abril de 2010

A MÚSICA - Um sentimento de mundo




(Eu quero falar de um jeito simples hoje. Não quero a palavra certa, mas aquela que apenas dê conta de retratar meus suspiros.)

São 00:22 e devo confessar que não sou capaz – pelo sono de agora – de escrever algo coerente. Mas quem se importa? Coerência é ponto de vista – às vezes.

Vou incensando meu quarto enquanto olho livros que deixei na prateleira: alguns eu nem sei para quê comprei, não os li nem tenho vontade de ler. Olho para meu violão esquecido no canto da parede, dentro da capa. Lembro de tudo o que vivi desde que a música entrou em minha vida: gente que conheci, músicas que cantei, pessoas que emocionei. E ultimamente a minha vida anda tão sem música... Eu não toco tanto mais. Fico semanas sem um acorde. Canto quase todos os dias, mesmo que seja só um refrão. E todos os dias sonho em cantar mais, penso que deveria escrever um projeto, dar um voto de confiança e dar o meu trabalho pelo meu talento. A voz mediana da cantora de samba se parece com a minha, a tonalidade me faz sentir confortável, sentir cada nota passando pelas cordas vocais com inenarrável naturalidade. Tudo o que é emoção se mistura, quero chorar, quero rir, quero perder a noção do tempo, do espaço. Parece que preciso entregar o corpo à música. A sensação não é muito passível de descrições; é difícil dizer. (Clichê, mas é verdade.)

Preciso cantar porque é assim que consigo levar a vida...

Preciso cantar porque – como dizia o querido Nietzsche – “Sem música, a vida seria um erro”.

Preciso cantar porque o Criador também canta em minha voz...

Preciso cantar porque cantar é minha única forma de rezar. A mais eficaz! E é por isso que não posso deixar de cantar.

E a minha vida sem cantar é uma “vidinha mais ou menos”.

Quando passo tempo demais sem tocar meu violão as primeiras notas são sofridas, parece que estou pegando, pela primeira vez na vida, um violão. Parece que descobri aquele mundo de novo, um mundo todo novo. Arrepio-me novamente, como se, pela primeira vez, tivesse conseguido fazer um acorde novo, ou simplesmente o primeiro acorde de minha vida, no violão Di Giorgio da minha mãe, violão que “ensinou” a várias pessoas quão sublime é a música...

Decido para sempre que nasci para a música. Não sei muito bem – ainda – de que forma devo me entregar mais a ela – que não é uma pessoa, não é uma coisa, não é uma disciplina: A MÚSICA É UM SENTIMENTO DE MUNDO, DE UNICIDADE, MAS AO MESMO TEMPO DE ESPARRAMAÇÃO: É O SENTIMENTO DO MUNDO EM MIM.

Entrego-me à música... Para sempre a ela me entrego. Entrego-me às sensações de cada nota, de cada música que canto sozinha na sala de piso de madeira aqui em casa - que por sinal tem uma acústica per-fei-ta, à música que canto onde quer que eu esteja, que rezo, que falo, que vivo.

Entrego-me.

E tenho sono agora... Preciso descansar. Preciso continuar sentindo – A MÚSICA que, para mim, nada mais é do que A VIDA SE EXPRESSANDO.



domingo, 21 de fevereiro de 2010

Nascer...

Há mais ou menos 2 semanas um passarinho vem me visitar à noite. De verdade. Entra sempre pela janela da sala e vai voando até o meu quarto e volta. Eu até hoje não sei se é beija-flor, rolinha, pardal, não sei... Mas ele me causa um susto interessante. Talvez tenha feito um ninho em algum lugar na varanda, perto da cozinha, na árvore.

Acho bonito, belo e delicado a forma como ele estabeleceu uma fidelidade em relação à casa. Tem várias casas aqui para ele ir, mas vem aqui, na minha casa... E fico a pensar que isso é um convite à minha mente atualmente poeticamente vazia. Minha meta de escrever um poema por dia está furada há muito tempo. Ninguém tirou minha inspiração mas, confesso: as tantas poesias que eu escrevia me tiravam – às vezes – os pés do chão. Eu vivia mesmo nomundodalua.

Quando entrei na faculdade, a ciência social me convidou a estar um pouco mais longe da poesia e me aproximar da teoria. Foi o que fiz, substancialmente. Mas nada disso, no entanto, tirou-me o romantismo, os sonhos, a delicadeza e a leveza de ser poesia viva, em minha vida e na vida dos outros.

A poesia é o convite diário para escrever a beleza de cada vida, de cada ser, de cada novo. Poesia é “nascer para a eterna novidade do mundo” (Pessoa, F.), e eu quero nascer a cada dia, na poesia.

Nascer...

No gesto das mãos de acolhida

No olhar que dirijo ao horizonte, ao Belo Horizonte e aos belos horizontes

Nas gotas em flor.

Nascer...

Em cada esquina em que mora um sonho

No vento que carrega os cabelos

No abraço amigo.

Nascer...

Para a eterna novidade,

Até que tudo seja não morte

Mas, de novo, nascimento.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

CARNAVAL - é tudo nosso!

Carnaval, festa que dispensa definições verbais. Independente dos meus gostos pessoais – eu não gosto, desde criança – tenho que admitir que, de uns anos pra cá, tenho me sentido um pouco menos mal humorada quando é esse o assunto ou quando a data se aproxima. Por quê? Não sei exatamente, mas mudou especialmente depois que tive a oportunidade de ouvir o Gilmar Rocha (antropólogo) falar sobre isso.

Como eu nasci no estado do Rio de Janeiro, seria natural viver essa “festa” ou festa (ok), sem aspas. Mas... Por algum motivo maior, que eu mesma não entendo, desde criança eu não me sentia à vontade, não ficava torcendo pra chegar o carnaval.

Não vejo – nem nunca vi – o carnaval ter aquele sentido de “festa antes da quaresma”, porque a quaresma (para os católicos) é um tempo de penitência, reflexão, recolhimento. Depois da quarta-feira de cinzas, os hábitos permanecem os mesmos para grande parcela da população brasileira. Então há que se questionar o sentido do carnaval como um rito de passagem para a Quaresma, que só acontece para os católicos que assumem isso, e olhe lá.

Para o brasileiro, impera a máxima de que “o ano só começa DEPOIS do carnaval”. Para além das fantasias, dos abadás, dos blocos, escolas de samba (que é o que eu de fato admiro, amo a Portela), do povo na Bahia, em Minas, São Paulo e em tantos lugares do Brasil, o carnaval constitui o palco de um fenômeno social poucas vezes presenciado por nós, sujeitos da história: é o momento em que, como cantava Clara Nunes, “as pastoras e os pastores vem chegando da cidade na favela”. As populações se misturam se apropriam, por alguns dias, do sentimento de nação, esse sentimento que, aqui no Brasil, infelizmente, é desordenado ou é fragmentado. Classes sociais convivem “harmoniosamente” nos mesmos espaços, dançam, gritam, “esbaldam”-se. É uma diversão, uma inversão da ordem vigente, e é radical...

“É tudo nosso”! Não haveria melhor jargão!

P.S.: um pouco de preguiça em escrever... E sono também. Então me perdoem se o texto está sem terminar. (risos)

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Mais uma vez, um blog!

Eu decidi voltar a escrever publicamente. Isso, não necessariamente para expor minha vida. Mas pra exercitar a escrita como instrumento de comunicação, interlocução, loucura, devaneio, encontro, sutileza e tudo aquilo que a gente consegue sentir...

“Abandonei” meus antigos blogs. Pelo menos por enquanto, não postarei por lá. Isso é pra ajudar a dar sentido às fases pelas quais vamos (vou) passando.

Só espero não perder o prazer de escrever e, com isso, espero continuar sabendo como dar ao leitor o sabor de uma leitura agradável!

É pra falar de amor, de gente, do mundo, de antropologia, de balaio de gato! Uma colcha de retalhos, tecidos e acontecimentos dos quais somos feitos.

Estão todos convidados à Aventura Antropológica que é a vida!

Vamos costurando... Ah, e escrevendo... Também!