domingo, 1 de março de 2015

Brotar

Entenda...

Que toda alma bonita que cruzar o seu caminho provou o sal da lágrima, o amargor triste de um café passado, o frio da solidão mais injustificada.
E se tornou bonita porque fez do sal, do amargor e da frieza terreno para a semente da dádiva. Fez, de si mesma, presente. 
Hoje, em seu caminho, essa alma, quer você veja, quer não, representa um sopro de bem. Um sopro de vida.
A alma bonita vem para mostrar que é preciso acarinhar a terra antes do plantio, entranhar nela a semente mais promissora, regar com serenidade - e com lágrimas, por que não?! - e aguardar a maturidade da planta. 
O que não se percebe é que antes da planta apontar na terra e buscar o céu, a semente BROTA e explode em vida! Dentro da terra, ainda, a semente sente dor para brotar, romper sua casca, 
Se o tempo de esperar parece agora mais difícil, é porque essa semente precisa de força para se expandir, virar broto, e do broto crescer planta. Esse é o momento crucial: o que precede a colheita.
Explode!
Expande! Brota! Sê vida!
Pulsa! Fura a terra, ama-a porque te acolhe, e então busca o sol com tua força de viver, que o fruto VEM.


domingo, 1 de junho de 2014

Escreve!



Sabe,
Quando comecei a ler livros e a me interessar por poesia, por literatura em geral, fui habituada, como a maioria de nós, a ver os escritores como deuses inatingíveis, insuperáveis, intocáveis. Tão grandes eram que a nós cabia somente contemplar a beleza ou perfeição de suas obras.
Obviamente eu amo e contemplo vários desses “monstros” da literatura. Gênios. Fantásticos. Mas... Nas incontáveis e nada esporádicas viagens para fora das aulas de literatura e redação, eu pensava: será que aqui, nesta sala, existe algum futuro grande escritor ou escritora? Será que escrever é tão raro e inacessível que isso não pode brotar de um de nós aqui, meros alunos? 
Esse questionamento me acompanha desde então. E junto com ele caminha a descoberta mais bonita da minha vida: a de que a POESIA é um sentimento, uma MOTIVAÇÃO, e o tal do POEMA é o TEXTO (quaisquer que sejam as formas por ele assumidas). Esse, claro, é um entre mil conceitos. Mas é o que me afetou, atingiu-me, flertou comigo, apropriou-se de mim, deste coração.
Feita essa descoberta, abre-se um espectro de possibilidades, de leituras do mundo, de nós e dos outros. E é exatamente nessas possibilidades que o escrever acontece, porque existe a MOTIVAÇÃO.
Não sou um “monstro” da literatura, nem pretendo sê-lo. Mas sou poeta. E também quero ser poesia. Viva. Enxergo poesia em cada um(a) que passa por mim. Vejo poesia em cada um que diz “não sei escrever”. Todos sabemos. Posso garantir que sim.
Quando dizem que eu deveria escrever mais, eu concordo. Deveria mesmo. Especialmente porque me faz um enorme bem. E quando esse bem transcende aos outros, quando ouço um “seu texto me fez bem”, “seu texto falou ao meu coração”, é lindo. É suficiente.
A poesia é uma motivação escondida em cada um(a) de nós. O texto, no entanto, em suas infinitas formas e possibilidades, é uma DECISÃO.
Abaixo, um poema de minha autoria, escrito num guardanapo, num dia chuvoso e regado de amigos em Belo Horizonte, no dia 8 de dezembro de 2008, em que reflito um pouco sobre essa DECISÃO:

Porque sou poeta

Eu não sei de onde vêm os sonhos
Não entendo muito sobre mistérios
Sei apenas sentí-los:
Doce essência
Que só conheço por viver.

Presença afável do Infinito
Que se revela em cada linha
Que desenho, percorro, movo, páro, desejo.
Caminhos...

Porque sou poeta, canto
Porque sou poeta, a cada minuto
Desejo, sincero,
Tocar a beleza das coisas...

Porque sou poeta, sou prece
Que a prece realize dentro de mim
E no mundo toda mudança necessária.

Porque sou poeta, amo:
Tudo aquilo que, de dentro de mim,
Exala ternura que vai ao outro
E volta para mim...

Só sonho porque assim sou
Porque a verdade
É capaz de me libertar
Porque a razão 
É capaz de clarear
Porque a vida
Me faz viver.

Amo em tudo quanto faço, 
sofro, 
luto,
vibro,
celebro.
VIVO!


sexta-feira, 9 de agosto de 2013

A toda vida, toda Graça!

(Este texto é uma republicação, não fiz revisões nem retirei nada. Foi escrito e publicado por mim, em julho de 2007.)

Sacramento, no popular, é ritual que marca as fases da vida do crente. É um conceito cristão.
“Sacramento” é "símbolo de coisa sagrada" ou "forma visível de uma graça invisível". (Santo Agostinho)
Sacramento vem do latim - sacramentummysterium, traduzidos do grego mysterion. O mistério não significa, porém, uma deficiência humana, um “não-saber” ou “não-atingir”. O mistério leva o ser humano ao conhecimento do outro, e a maneira adequada de se conhecer o outro é amando-o. O mistério é invisível, o sacramento é o sinal dessa graça invisível.
Na tradição cristã-católica esse Mistério é o Acontecimento Pascal, a celebração da vida, morte e ressurreição de Cristo e a doação do Espírito Santo. Os sacramentos, pois, condensam a celebração do todo da vida, a festa.

Em cada sacramento celebramos a graça de Deus presente em nossa vida à luz do Mistério Pascal de Cristo, recordando este mistério. Mesmo antes ou sem a celebração dos Sacramentos a graça de Deus está presente. O sacramento é a celebração desta presença.  (Hottz, p.18)

A graça de Deus não se trata de algo fora do ser humano, mas a relação deste com Deus. Graça é dom, ato recíproco e gratuito, não é mérito do ser humano, graça é charis (grego), favor sem recompensa, Deus se doando.
Se sacramento é sinal visível de graça e graça é Deus presente, como podem os sacramentos ser meramente ritualísticos, como são entendidos na grande maioria das vezes? Sacramento é a celebração, a foto e a lembrança de, por exemplo, batizado, primeira Eucaristia? Como pode o todo da vida não ser sacramento?
Estar na presença do outro, amar o outro e, assim, conhecê-lo, é fazer e tornar a vida momento de encontro sacramental.
É sacramento uma troca de olhares mútuos, recíprocos. É sacramento um bom dia ao vizinho. É sacramento o encontro a dois a fusão, complementação de corpo, mente e alma animus eanima[1]Em tudo isso podemos observar como somos seres – como diz Leonardo Boff – de estrutura pascal.
Fazer da vida sacramento é admitir, viver e reconhecer a presença e penetração da graça de Deus em nossos dias. Os sacramentos da Igreja são convites à vivência da experiência de Deus. São convites a experimentar Deus, a estar na e ser transcendência. Assim, podemos encontrar o sagrado naquilo que, por vista grossa, é profano. Tanta coisa é profanada por nós mesmos... O amor, a família, a amizade, a relação com a natureza, enfim, a relação com o alter, que não é uma pessoa ou outra, mas um todo de gentes e de gente. Deixamos secularizar aquilo que é o mais sagrado de todos os acontecimentos: a vida. A vida enquanto dom, nosso e de Deus; a vida enquanto direito; a vida enquanto existência; a vida enquanto essência humana, e, logo, divina.
A vida precisa do cuidado de mãos que sabem cuidar – ou de mãos que podem aprender a cuidar, de gestos que amam, gestos que purificam, palavras que vivificam, olhares e visões que plenificam, abraços que complementam e completam, ações que a engrandeçam, doação de coração, espaço para a transcendência.
Nossas ações de morte são, por vezes, inevitáveis. Mas a morte não é um oposto à vida, é parte da vida. O que não significa que deve haver morte para que a vida se faça, que deve haver opressão de gentes e mentes para que o ser humano seja livre e tenha sua dignidade e sua cultura respeitadas.
Viver é o todo. É a grande liturgia! É permanecer e movimentar-se num cosmos de relações íntimas com o coração de Deus a todo instante. Porque estar no coração de Deus é pisar neste chão, caminhar com os pés e tudo o que somos em direção a uma “mística de tudo”, ou uma “espiritualidade na carne quente e mortal, dimensão do ser humano” (Boff, p. 51).
Viver é, por excelência, um ato sacramental. É sempre selar compromisso, é sempre criar encontro e espaço privilegiado para a transcendência.
Por isso, já dizia São Tomás de Aquino: “A TODA VIDA, TODA GRAÇA!”

[1] expressão difundida pelo psicanalista C.G. Jung para designar a dimensão masculina (animus) e feminina (anima) presentes em cada pessoa. 



BOFF, L. Espiritualidade – um caminho de transformação.Rio de Janeiro: Sextante, 2006.
BOFF, L. Os sacramentos da vida e a vida dos sacramentos. Minima Sacramentalia. São Paulo: Vozes, 2001.
BOFF, L. Tempo de Transcendência – o ser humano como um projeto infinito. Rio de Janeiro: Sextante, 2000.
HOTTZ, Paulo Roberto. Sacramentos I. Apostila do Instituto Diocesano de Teologia Monsenhor Barreto.
CIC – Catecismo da Igreja Católica. p. 222, 774. São Paulo: Loyola, 2000.

domingo, 15 de maio de 2011

Minas, Gerais do meu coração.

Sabem,
Há um tempo não escrevo no blog. Não tenho feito do ato de escrever um hábito, como fizera antes. Não é falta de inspiração, nem falta de tempo, necessariamente. Porque julgo que o tempo é uma escolha, é uma questão de prioridade. Se escolho, consigo fazer tudo o que quero. Então é falta de escolher fazer isso. E hoje, eu escolhi fazê-lo.
Tenho refletido muito – pessoalmente – sobre questões, digamos, elementares da psicanálise. Claro, aplicadas à vida. E o que é, senão, a psicanálise? Não vim responder isso, óbvio.
Anteriormente, escrevi sobre meu cordão umbilical. Sobre o sentimento fetal que tinha (ou tenho) com relação à minha cidade natal. Ao meu espaço, àquelas que chamei “pequenas Minas”. Lugares de aconchego.
Aos 18 anos, eu me lembro, fiz uma escolha drástica: sair das pequenas Minas e ir para as Minas Gerais. Estudar fora, e longe. Quando aterrisei nas Terras de Minas senti toda aquela saudade da minha terra, aquela ligação umbilical. Essa ligação nunca se perderá. E hoje, quando volto, percebo que tenho, também, uma forte ligação com esse mundo chamado Belo Horizonte, Belzonte, Beagá, qualquer coisa a ver com o paraíso, como diz o Flávio Venturini.
Há uma espécie de arrependimento. Uma vontade louca de voltar. De pagar o preço. De sentir saudade daqui. Emoções mistas. Distintas. Mas tão iguais...
Sabe o nome disso na antropologia? Topofilia. Topofilia é o elo afetivo entre a pessoa e o lugar ou ambiente físico. Onde eu me sentiria melhor? Aqui, ou em Beagá? Eu não sei. Racionalmente, não sei. Mas meu coração sabe, e já deu a sua resposta.

E vamos ver como a banda vai passar a tocar a partir de então...
Dedos cruzados, traseiro mexendo na cadeira pra poder passar nas provinhas e então... Voltar! Para o seio de Minas, Gerais do meu coração!

Prometo que vou escrever coisas mais profundas. (Risos)
Mas isso é profundo demais pra mim. Mesmo que eu tenha tratado o tema com ligeira superficialidade aqui. Não é?

Suspiro...

Ai ai.

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Rituais de Passagem Parte II – Da água que correu. Histórias assim não começam nem tem fim, elas existem.

Agora vamos deixar o meu amado Clube da Esquina de lado, porque eu não estou num momento Clube. Quero dizer, estou. Mas não estou num momento Clube bom. Então é melhor desviar.

Eu estou tentando escrever esse texto há dias. Há semanas... Mas não me sinto suficientemente inspirada. Acho que é porque, na verdade, muito tenho a dizer. Em vez de eu cantar, como o Milton canta em Travessia, “muito tenho pra falar”, eu me calarei. Porque no silêncio rezo a Deus por meus projetos de vida, por minhas esperanças.
Este fim de ano, para mim, não é um lamento. Mas é uma oração que contém uma gota de lamento pelas rupturas que tenho vivido.

Eu queria, agora, estar numa praia, vendo a linha do horizonte, e ver o vento levar esse sentimento “esquisito” embora...

Existe um incômodo, mas, numa proporção aumentada, muito mais significativa, a vontade, o desejo e a esperança de que tudo, TUDO DÊ CERTO!

Eu preparo meu terreno – meu coração, solo sagrado – para a chuva que Deus enviará quando achar que estou pronta. Não quero agir como o fazendeiro que só ara a terra e prepara as sementes quando vê que a chuva está prestes a cair. Quero estar preparada.

Então, que 2011 seja doce!

Eu quero mais.
Mais paz.
Mais saúde.
Mais poesia.
Mais verdade.
Mais noites bem dormidas.
Mais noites em claro.
Mais sorrisos, beijos
e aquela rima grudada na boca.

(Fernanda Mello)

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Rituais de Passagem Parte I - "todo lugar que a gente pisar vai se tornar um pouco Esquina, um pouco Godofredo, um pouco Minas."



Então... Dessa vez, tenho que usar o verbo no gerúndio, sabe por quê? O momento é processual; começou no fim de outubro, e não sei onde e nem quando vai terminar. Aliás, também não sei como. Sei que eu mesma sou esse processo, aquilo que nós antropólogos gostamos tanto de estudar: o ritual de passagem; passagem pra um novo tempo, novo momento, novo lugar, nova vida, nova etapa e, quem sabe, uma nova Melissa, que trabalha/trabalhará para recolher aqueles sonhos esquecidos “sobre a mesa, como uma pêra se esquece dormindo numa fruteira, como adormece um rio, o sol na sombra se esquece, dormindo numa cadeira...”
O processo, como um todo, pede muitas renúncias. Renúncias as quais eu estava disposta a fazer, já há algum tempo. Renunciar a grandeza da capital, o consumo, o excesso de liberdade - é o que você tem quando não mora com sua família, as oportunidades de ir a tantos shows e eventos. Infelizmente, isso não é o suficiente pra alimentar a nossa alma que, às vezes, precisa da paz e das confusões de nosso lar, de nossa família, do nosso lugar de origem e, no meu caso, o lugar com o qual - segundo alguém me disse há algum tempo - tenho ligações, até hoje, umbilicais.

* * *

Em se tratando de outros poréns, eu, hoje, afetivamente, não sou mais a mesma. Muitas coisas mudaram de rumo em meu coração depois que, no meio deste ano, um sentimento perpassou-me a alma, instalou-se em mim (até hoje eu não sei se isso foi/é bom ou rim), mas eu digo mais uma vez: depois disso, eu jamais serei a mesma, e isso não vai mudar. Depois disso, nunca mais cantarei as músicas do Clube da Esquina sem que meu coração/alma viaje para defronte ao Edifício Levy mesmo não estando lá, ao Godofredo, à Esquina da Rua Divinópolis com Paraisópolis, ao Parque Municipal, à Av. Afonso Pena em dia de Feira Hippie: é mais do que o Clube da Esquina e as atrações belo horizontinas, é o que tudo isso carrega dentro de si desde então. Meu coração não é mais o mesmo de antes. O Clube da Esquina. Tudo passa a fazer um sentido meio sem nexo (fazer sentido sem nexo é possível?), mas ao mesmo tempo cheio de razões, razões essas que, como diz o Beto, “não precisam de razão”. E enfim...

* * *

Eu reinvento o Cais, lanço-me.

* * *

Vivo agora as despedidas de Belo Horizonte. Vivo a primeira parte da partida, a despedida dos lugares porque passei, as memórias que são mais do que lembranças, são vida em mim. E essa, descrita no rumo de Santa Tereza, em BH é, senão, uma das mais vivas, mais fortes, mais... Não sei a descrição exata.

* * *

"Eu quero mais, tenho o caminho do que sempre quis." (Milton, Bituca, pai, ídolo, sei lá, eu amo esse homem.)

* * *

Estou me despedindo (gerúndio) de Belo Horizonte não sem lágrimas, não sem dor, não sem sentir que perdi algo. Mas preciso... Preciso de mais tranquilidade, trabalhar no que quero, viver um pouco mais. Preciso de sossego, de família, preciso das minhas “Pequenas Minas, Geraes do meu coração”, ou seja, as pequenas Minas de que falei no post De repente todos os lugares podem ser Minas Gerais.


segunda-feira, 20 de setembro de 2010

A falta que Deus me faz.



  
O único jeito de rezar é cantar. E a única coisa que me eleva a Deus é a arte. Então, eu ando, por esses dias, meio atéia.


(Eu)


Sem mais palavras.
Preciso de traços.
De melodias.
De cordas novas pro meu violão.
De lágrimas de onde jorrem canções.


Preciso rezar.